As cidades enfrentam hoje importantes desafios ambientais, económicos e sociais. Mais de 50% da população mundial vive em espaços urbanos, um cenário que se tende a agravar. Por outro lado, sabemos que são as cidades as principais consumidoras de energia, responsáveis por cerca de 80% das emissões de carbono do planeta. Por tudo isto, as cidades carecem de iniciativas que as coloquem na vanguarda da transição energética e da descarbonização. Basta lembrar que se estima que a procura global de energia possa aumentar 37% até 2035 e que as deslocações nas áreas urbanas tripliquem nos centros mais congestionados até 2050.
Importa também ter em conta que o aquecimento e o arrefecimento representam cerca de 50% do consumo de energia final na Europa. E se é verdade que as necessidades de aquecimento são menores em Portugal, comparativamente com o centro e o norte da Europa, pelo contrário o peso do arrefecimento é significativamente maior no nosso país, apresentando uma forte tendência de crescimento, sobretudo em edifícios de serviços É, pois, uma evidência que qualquer política energética falha se não atribuir a devida importância ao aquecimento e arrefecimento dos edifícios.
O futuro energético das cidades tem de passar por soluções cada vez mais eficientes e energias mais limpas a caminho de uma economia carbono zero. E não podemos olhar apenas para a iluminação pública ou para os transportes. É necessário enfrentar a questão da climatização, desde logo reduzindo as necessidades energéticas dos edifícios, mas também adotando soluções de climatização inteligentes e mais eficientes. Recordo que, a este nível, o Parque das Nações, em Lisboa, tem funcionado em muitos aspetos como uma montra de modernidade de novas tecnologias. É naquela zona que está a funcionar a primeira rede urbana de frio e calor do país, a qual substitui os equipamentos convencionais de aquecimento e de climatização, como caldeiras, esquentadores ou aparelhos de ar condicionado, que poluem e descaracterizam as cidades. Com este tipo de infraestruturas, o frio e o calor são produzidos centralmente com energias mais limpas e tecnologias mais eficientes.
Uma rede de frio e calor permite, por exemplo, aproveitar o calor residual de uma indústria para aquecer ou arrefecer os edifícios situados nas proximidades. Ou utilizar energia geotérmica, resíduos de biomassa florestal e outras energias renováveis para aquecer um quarteirão, um bairro ou uma cidade.
Só na Europa existem atualmente mais de 5000 redes que fornecem calor a quase 10% da população do continente. E os projetos de novas infraestruturas deste tipo multiplicam-se um pouco por todo o mundo, uma vez que as redes são a solução ideal para descarbonizar áreas de elevada densidade de consumo de energia. Para além dos benefícios ambientais, este tipo de sistemas permite ainda melhorar a arquitetura da cidade, libertando zonas nobres dos edifícios como fachadas, terraços e varandas.
Num mundo em rápida transformação, é preciso reequacionar a melhor forma de dar resposta aos desafios do nosso tempo. Pelo planeta, pelo nosso futuro, pelo bem comum.